quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Barquinhos de papelão e a faxina






Trigésimo segundo dia 21 de outubro de 2008.



Finalmente consegui lavar minhas roupas!!! Passei aspirador de pó no quarto, lavei o cabelo, fiz compras, como toda quarta. Acabei com as comidas da semana passada, levei o lixo pra fora, lavei o meu banheiro... Foi uma sensação de arejamento...
A senhora Rodriguez, matriarca, é uma peça!!! Ela semana passada naum me deixou lavar a roupa... Fica dando palpite em como faço comida, em como arrumo minhas roupas...
Gente!!! Tem horas que conto até mil... Ela tem meio o jeitão da mamãe... Na casa delas as coisas andam segundo a jurisdição delas... O fato é que com a mamãe, eu vivi minha vida quase toda... E já consigo fazer ela entender que eu gosto de fazer as coisas quando eu quero e que não gosto que ninguém guarde minhas roupas, nem meus livros.
Já comecei a mostrar isso pra senhora Rodrigues... Mas ela é que nem eu, só entende o que quer... Mas eu gosto dela... A gente fica de papo, tem horas que ela naum me entende em espanhol, aí tenho que tentar falar em francês... A casa aqui é bilíngüe, mas já percebi que na hora de ver TV, comer e brigar... Elas preferem o espanhol... Que mierda!!!! Só a Mellani (a herodinha) que fala francês sempre, mas entende o espanhol, ela tem aulas em escolas daqui e espanholas, que naum são escolas de idioma só naum... É escola mesmo, é muito interessante... Ela está se alfabetizando em francês... E quando eu chego à noite e vou tomar café... fico ouvindo ela lendo... É tão lindo.... Outro dia levantei e fui lá babar... Quando ela conversa comigo ela fica corrigindo cada uma das minhas pronúncias...
Voltando a senhora Rodriguez... acho que ela também tá gostando de mim... hoje ela foi me ensinar a lavar roupa lá na lavanderia... Se cair um asteróide aqui... quem ta lavando roupa nem vê... fica vivinho... É igual naqueles filmes americanos que a lavanderia fica lá no subsolo e é comunitária...
Ela pediu a receita do meu pimentão recheado... Ela é tão solitária... não tem um rin, tem pressão alta e cuida de tudo por aqui... todos saem e ela fica aqui... Parece mesmo com a rotina da minha mãe... A rotina torna invisíveis pessoas fundamentais...
Saí para ir à faculdade e encontrei a Beth! Ela tava linda na loja... toda cheia de si. Lembrei que a Beth fica xingando que eu naum falo dela no meu diário... Que mentira... A Beth a Dona Arlete e a Nina são as únicas que já têm os presentes comprados... Na verdade, eu naum escolho falar ou naum. Vem a vontade de escrever e aí em escrevo. De uns eu falo, de outros eu calo e calar também é uma maneira de significar...
A Laudes também é outra que disse que eu só mando meu diário nos e-mails.... Gente!!!! Tudo tem de explicar... Esse diário é a maneira que encontrei de dividir com um grupo pequeno de pessoas lindas minhas coisas... Pensei que seria mais fácil que escrever um e-mail pra cada um... Mas a gente é assim... sempre quer mais... Então essa página de diário eu dedico a minhas duas grandes amigas... especiais a sua maneira, bravas a sua maneira, lindas a sua maneira, competentes a sua maneira, elegantes a sua maneiras, e “carentes” a sua maneira...
E por falar em limpeza, recebi um presente lindo do mundo inteiro em forma de poesia... Organizei as coisas nas minhas caixas depois dele. Será que eu consigo ficar sem pôr e tirar as coisas das caixas... Vou precisar de um tratamento de choque. Acho que só consigo isso... se jogar as caixas fora...
É dia de faxina.
E por falar em caixas... queria que o Helder respondesse a pergunta que eu fiz sobre meus livros... Já sei... Rodrigues que é, só faz e fala o que bem quer, a hora que bem quer também...
É bom dormir com cheirinho de limpo em volta...
Na volta deixei minhas caixas nas margens do LeMan... Quem sabe alguém não passe por lá faz delas barquinhos de papelão, né?

Um mês.

Trigésimo primeiro dia 21 de outubro de 2008.


Hoje naum acordei muito bem... Meu sono foi recortado por muitas imagens... saum tantas coisas pra processar, tantas faces inéditas, tantos valores diferentes... Desde que cheguei, tenho me dedicado a estudar a língua e a ler... É tanta informação. E ainda tenho as imagens da saudade que trago comigo. No meu sonho havia tantas cortinas, tantos véus e um só rosto... passei a noite sobressaltada... Quando me levantei... querendo comemorar o aniversário da minha odisséia..., todo meu corpo doía... não conseguia suportar as dores dos meu ombros, meus pés doíam... procurei em meu corpo alguma explicação para essa dor... garganta, rins... nada... Só o corpo doía... organizei minha vida e fui para a aula da madame Gonzáles... Ela tinha um seminário numa cidade aqui perto... e tava com todo gás... entregou nosso trabalho corrigido e pediu a reescrita, pediu pra escrever um texto e mais duas folhas de exercícios... sem noção!!! Comecei a perceber que meu corpo naum doía por acaso. Fizemos atividades em grupo... Gente! Eu morro de rir na aula... É muito engraçado... e povo agora tá se soltando também e começam a rir atrás de mim... Madame Gonzalez, hoje perdeu a compostura... e deu um gargalhada com a boca mais aberta que ela já deve ter aberto... Quando voltei para o meu lugar... O italiano, fofo, tinha sentado no meu casaco, jogado minha água lá pra trás... mas eu naum fiquei brava e enquanto recolhia minhas coisas... ele colocou a mão no meu ombro pra me pedir a borracha. Quase gritei de dor no primeiro instante, mas o calor da mão dele acabou ficando confortante... Aí constatei definitivamente o motivo da minha dor... Falta de gente e excesso de estudo...
Saí da aula com dores ainda, temei um café... fiz meu check- e-mail... e naum vale rir... heldinho... Resolvi umas questões com o Antoine... E fui pra casa decidida a comemorar meu aniversário apesar de todas as dores... Parei na chocolateria mais chique da rua XV daqui... Sempre passava por lá e ficava só olhando... senti falta de comer com alguém... Eu gosto do ritual da comida... Comer devagar, comer juntos... depois tomar café... depois comer sobremesa... Lá em casa acho muito legal a gente naum ter perdido o hábito de sentar à mesa todos os dias pra comer.... Na casa da Gema todo mundo come na sala na frente da TV... uó... Lá em casa mesmo tendo ficado mais desanimado o almoço como o casamento do Jef, porque ele fazia todo mundo rir. É bom sentar à mesa mesmo que seja pra gente naum ter o que dizer... A nossa mesa sempre foi o lugar das conversas mais duras, mais amenas, mais triviais... Na nossa mesa nós somos família. Sentei sozinha, diante do meu bolo-bolo... E comei... festejando minha coragem, minha obstinação, minha força de vontade, minha dedicação,minha alegria... Estar aqui tem mesmo que causar algumas dores... pois naum é fácil não. Um mês se passou... sei que já naum sou mais do mesmo tamanho que cheguei aqui... Crescer dói. Já não sou mais menina. Cheguei às 7 horas, deitei com dores... e dormi... não li, não fiz exercício, não pus e tirei nada das minhas caixas e gavetas... só dormi o sono dos pequenos vencedores e dos justos...

A chapeuzinho vermelho



Trigésimo dia 20 de outubro de 2008.

Hoje a gente tinha que enviar a nossa tarefa de casa pra Grobet. Ela pediu pra gente fazer um texto argumentativo defendendo ou refutando o uso de cigarros nos bares e cafés. Claro que eu defendi o meu direito de ir para um bar com alguém que fume e que essa pessoa não precise parar o papo no meio para ir dar uma fumadinha lá fora... É como a Beth diz que o lindo da UFMG disse... Precisamos ser mais tolerantes... (essa frase cabe em tantos lugares, meu deus!!!) Eu não abro mão do meu direito e da minha responsabilidade de ir para um bar de fumantes...
Queria usar o argumento do Guila, dos carros que soltam aquele gás escuro pelos canos de descarga... Gente!!! Os carros aqui além de naum fazerem barulho, não têm canos de descarga!!! Nossa Senhora das Mercedes! Bem que eu tinha percebido que não tinha aquela fumaçada...Mas só hoje observei os carros. A gente que se mate e se morra no terceiro mundo... Diante desses carros naum há argumento do Cláudio que convença.
A lenda que minha tia me contava quando fiquei menstruada pela primeira vez, aos 9 anos, vê se isso é coisa de criança, era que a gente naum podia interromper o fluxo de uma forma naum espontânea, tipo comendo três feijões crus no último dia útil antes da menstruação... Tinha outras lendas... que a gente naum podia lavar a cabeça nos dias... (essa eu achava até legal!!!) que a gente tinha que ficar de repouso... (essa eu adorava mais ainda), que a gente naum podia tomar leite e que naum podia transar nos dias... Eu sempre achei que era regra demais pras regras. Obedecia, pois tinha medo do feitiço virar contra o feiticeiro e as regras não encontrarem mais as exceções... Na verdade, as regras sempre tiveram a imagem da janela de BH, lá do Eldorado, em que os meninos e as meninas da rua ficavam brincando na rua e eu, mocinha, ficava em casa de molho... literalmente. Hoje quando já sinto por essas épocas meus ovos se movimentarem... é uma sensação taum engraçada... aquela certa tristeza da minha infância perdida aos nove 9, pois chapeuzinho que avermelha o lobo pode comer, me toma pela certeza de dores pelo corpo e daquela fisgada na cabeça bem em cima da sobrancelha esquerda que me acompanha desde de então...
Minha obstinação sempre foi buscar a razão das regras gramaticais ou naum... Se entendo a razão da regra, sigo. Se naum... Façam me entender!!! Sou estudiosa...
Imagina se minha tia tivesse aqui viva comigo... Ela ia ficar maluca de ver que a menstruação dos carros é interrompida de forma não espontânea e que também de forma naum espontânea o rio corre aqui... ele até ejacula... minha Frida Calo do céu!, de forma naum espontânea os carros e as gentes param diante dos sinais vermelhos.
Viu, tia, se eu quiser interrompo as regras! Se eu quiser eu posso adiar as regras! Se eu quiser eu até transo com as regras... desde que eu as entenda...
Sei que há um preço... E o daqui... é um ar puro, um ambiente sem sons enlouquecedores de carros e pessoas chatésimas que seguem todas as regras, aposto que sem entendê-las...
Mas bonito mesmo deve ser ver as regras darem lugar às exceções por noves meses, assim de forma espontânea...
Que bonito, a vida nasce na exceção.

Os homens de Genebra

Vigésimo sétimo dia 17 de outubro de 2008.


Acordei taum bem. Fui pro parque, fiz minha caminhada, peguei minhas folhas... Ah! Tô fazendo uma coleção de folhas do outono de Genebra, pra fazer um quadro quando eu voltar... Brega, né? Mas só vou aceitar crítica de quem tiver vindo aqui e ter feito um quadro de qualquer coisa de Genebra.
Fui pra universidade, no caminho comprei o livro do MAM... Saí da loja igual a menina do clip da Vanessa da Mata... O clip é uma fofura!!! É o clip da canção “Não me deixe só”... hummm! E pra variar trombei com um homem na porta da livraria... Caíram os livros, a nota, minha bolsinha linda de coraçãozinho preto de dinheiro... Parecia cena que filme... sem direção... ele foi todo solícito... pediu mil desculpas... e a culpa toda tinha sido minha... Fiquei olhando pra ele enquanto ele continuava a seguir depois de mim... E fiquei pensando nos homens de Genebra.
Acho que todos os homens bonitos do mundo vieram pra cá. Se bem que o Zidanne naum mora aqui. Mas naum tô falando de beleza pela beleza eu to falando do que eu gosto de ver nos homens... Naum pode faltar a um homem elegância e senso de humor...
Naum é uma elegância qualquer... Gosto de homens com roupa social, de terno entaum... Nossa Senhora... assim andando pela rua... aqui quase todos andam assim de sobretudo e cachecol... Homem de cachecol é tudo... O italiano da aula de elementar... e seu cachecol... Uffff! O que trombou em mim tinha um lindo azul que ia ficando mais claros nas pontas... e vestia um terno preto riscado de giz... Os sapatos até brilhavam... e o cabelo mesmo com trombada naum desarrumou...
Por falar em cabelo, até prefiro os carecas... mas se tiver cabelo grande tem que andar igual a um moço lá da unige... com eles arrumados ou desarrumados com uma certa displicência. Se forem curtos tem de ser iguais aos do Jean-Philippe do departamento de lingüística, delicadamente arrumados ou desarrumados... Adoro o nome Felipe! Esse cara tem cada olhão azul... que engole a gente e mais ou menos 4 palmos de ombro... Meu Santo Antônio!
Até os adolescentes e jovens daqui tem uma certa elegância... Os árabes da LAN... Alá!!! Falam alto e tudo, mas têm os narizes mais elegantes do mundo... E por falar na LAN... o menino que atende a gente... É lindo... e elegante... e fala espanhol... Santa Bernadete! Ele fica taum elegante de camisa preta e calça jeans... Tem o trompetista da ponte... que nem é bonito, que nem tem roupas elegantes... que naum é cheiroso porque naum tem nem o que comer, senaum naum tocava por moedas... mas que tem uma dignidade... suficiente pra ganhar orquídeas. É o mais elegante... O Antoine tem o cabelo mais gracinha... e quando tira o óculos ficam acentuadas as rugas... Ai que lindas...! Ele tem uma mão pequena e naum termina nunca as frases... Se termina é com uma interrogação, o que pressupõem que a gente tem que continuar falando. Fico imaginando ele em casa... Fico até brincando de imaginar ele pelado... É muito legal brincar disso...
Um dia fiz o Helder brincar disso comigo no cinema... Ele ficava vermelho só de olhar pras pessoas... É dessa elegância e senso de humor que eu tô falando... Gosto de brincar de ficar olhando pros homens nos ônibus... A gente fica olhando, olhando... uns às vezes cumprimentam... Eles vaum passar mesmo... e ficam ainda pensando que a gente bem gostou deles... nem sabem que tudo é pura brincadeira....
Há nos homens daqui uma certa elegância despretensiosa que é assustadoramente sedutora, assim com a cidade.
Genebra me seduz! Mas Genebra, calma lá... que eu naum sou taum fácil assim... Não sou mais avulsa... Já entreguei meu coração a outras terras onde no outono as folhas naum caem lindamente assim com aqui... já entreguei meu coração a uma terra de sol quente, chuvas fortes e de homens com outras elegâncias, que têm bom humor e que sabem dançar...

A cara da saudade



Vigésimo sexto dia 16 de outubro de 2008.


Gosto muito dos substantivos abstratos porque eles parecem subverter a ordem dessa nossa classificação gramatical.
Qual é mesmo a substância apreensível ou não em saudade?
Sempre achei que haveria duas possibilidades para a palavra saudade.
1 – saudade podia ser verbo, porque saudade é estado. Varia em tempo, modo, número, pessoa.
Entaum na minha boca, saudade além de um gosto áspero seria analisada como um verbo, em primeira pessoa do singular do pretérito imperfeito do subjuntivo. E seria um verbo de quinta conjugação...
2 – saudade podia ser advérbio, porque naum varia... nem de pessoa pra pessoa... todo mundo sente, ela modifica os verbos e os próprios advérbios. Hoje, sob meus olhos, a análise morfológica de saudade seria: advérbio de negação, de intensidade e de modo. Tudo num só.
Estava com fome das pessoas do Brasil, naum consegui me conectar e foi me dando um assombro, porque tinha um compromisso com as alunas e naum pude comparecer... Isso me deixa deveras injuriada... Hoje naum falei com os meus... E com os quais eu havia falado no dia anterior, deixaram mensagens meio surreais na minha caixa de e-mails...
A palavra tem mesmo uma dimensão maravilhosa aberta pelo significante e pelo significado e Saussure foi muito feliz ao dizer que do sentido ele naum ia dar conta... Porque o sentido é inapreensível e porque naum também abstrato... A palavra devia ser um substantivo abstrato...
Qual é mesmo a substância da palavra?
O fato é que todo o sentido que eu pensei quando coloquei na minha mensagem... tinha sido abduzido por algum extra-terrestre peitudo, só pode... e ficaram os sentimentos mais tristes mais sombrios... Entaum a resposta veio com outro substantivo... solidão... A substância da solidão... nós já conhecemos... Estes e-mails oníricos deviam ser barrados pelos pop... naum sei o que da internet...
Me deu tanta saudade!
Nessa cidade linda, nesse estágio taum desejado, nessa oportunidade de conhecer outras culturas, de aprender outra língua, de conhecer novos lugares... E tal qual nos e-mails fiquei com os significados mais cinzas. Talvez pra combinar com o dia que estava cinza e chuvoso.
Me deu uma vontade de falar e de ouvir a palavra, pra ver se o acento prosódico podia corrigir mal-entendidos. Porque o abraço, o toque, o beijo corrigem...
Naum sei bem se corrigiu, mas fiquei menos ansiosa... tive fome de comida pois até entaum não havia conseguido comer... Passei na pizzaria do garçom gracinha, que hoje naum me perguntou se eu estava sozinha... Já foi logo tirando os outros talheres da mesa.
Tirei uma foto minha e quando olhei pra ela fiquei... em silêncio até que o garçom voltou com meu chope e me acordou...
A saudade tem forma e substância sim. Ela é e deve ser um substantivo. Hoje a saudade tinha a minha cara.
Depois do primeiro gole, resolvi pensar no programa da sexta... peguei o jornal com as atividades do fim de semana, conversei com o dono do restaurante... conversei com as girafas gigantes que ficam na porta... saí de lá feliz... Por ter aprendido que a gramática normativa e sua classificação mais folie do mundo... também usam o conhecimento prévio pra aprisionar as palavras...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Xixi na banheira...

Vigésimo quarto dia 14 de outubro de 2008.


Hoje naum fui à universidade... Dormi cheia de planos...
Acordar cedo...
Fazer comprar...
Lavar os cabelos...
Limpar minhas unhas...
Lavar roupa...
Estudar...
Ir ao cinema
E estudar...
Acordei tarde... Tomei meu banho.. fiquei um tempão na banheira... É besteira mas tem uma coisa muito legal de fazer na banheira, além de afogar... É bom demais fazer xixi com a banheira cheia. É assim dexa eu explicar... Num é a porcaria pela porcaria... se fosse assim muitas outras coisas que gente faz seriam bizarras... É pelo prazer que esse ato proporciona... A banheira tem que tá cheia com a água quente... porque senaum naum dá pra sentir a diferença de temperatura... É a diferença de temperatura que dá o barato de fazer xixi na banheira... Por falar em coisas bizarras... Lembrei do meu segredo com o Beto das coisas que saem da garganta... Ah! Num vou continuar naum... é segredo... nosso. Meu e dele. Assim como deve ser um segredo pra deus o mistério do nosso encontro nessa vida. Nossa história é tão cheia de pequenos mistérios, encontros e desencontros. Vê o desencontro do dia do meu embarque... Queria que ele tivesse lá pra me dizer tchau. Ele naum foi... E a gente que tinha combinado de andar sempre de mãos dadas... Por onde andamos que naum falamos mais de segredos que saem da garganta... Saudade de quando falávamos de coisas simples... Saudade de provar gostos com ele... Com ele aprendi a gostar da Pizza do Pizza Hot, aprendi a educar meu paladar pra comida japonesa. Aprendi a rir da mesma piada três/ quatro como se fosse a primeira vez. Aprendi com ele sobre coisas do além, aprendi que um dia eu ia querer alguém só pra mim... Aprendi que sou pintadinha porque sou uma obra de arte... Com ele desenvolvi o gosto por ser correta, por ser honesta mesma que naum tenham olhos me vendo. A tentar ser justa e que ser justa às vezes é pode gerar mal estar. Aprendi a gostar de lugar gay e a educar meus olhos para o que é diferente sem me espantar... Num desses misteriosos acontecimentos de nossa vida fomos a rainha e o rei do Prepes na PUC, cantávamos toda manhã juntos Vai passar com as bocas mais abertas do mundo... E quase morria sufoca com o cheiro de álcool no quarto quando ele chegava de madrugada... Que mistério nosso encontro, que mistério a ausência das pessoas que amo pra dizer do quanto elas saum importantes pra mim...
Lavei meu cabelo, naum lavei a roupa, naum fui ao cinema... Comecei a me amigar com o praat, só comecei... estudei muito... li tcc, dormir até de tarde e sonhei como Beto.
Tantos planos...
Como diz Fernando Pessoa em Adiamento...
Só depois de amanhã... Hoje quero preparar-me, Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... Tenho vontade de chorar,Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Das coisas que eu naum sei

Vigésimo quarto dia 14 de outubro de 2008.


Acho que devia ter graduação, pós-graduação (lato e strictu sensu) pra formar professores de auto-escola. Ou quem sabe podia ser assim... A pessoa faz graduação em educação e depois se especializa em como dar aulas pra futuros condutores ou condutores debutantes...
Tudo isso porque a Madame Gonçalez dizendo que nossa turma estava muito bem pra quem está no nível “debutante”... Aí fechei os olhos e voltei no dia em que eu, Cláudio e Maurinho conversávamos sobre as aulas da auto-escola. Me lembro de que eu falava que o quê me mata é essa sensação de debutar em sala de aulas... Naquelas aulas uó... a minha incompetência ficava ressaltada... Tinha a sensação de que eu naum queria começar a aprender mais nada...quando saia de lá. Porque aquela porta chamada instrutor, nos amedrontava, porque ele tinha um saber que a gente naum tinha... Ele ressaltava nossa incapacidade de ser gente... A gente tinha que ficar lá 3horas e meia por dia com aquela porta de camisa furada falando aquelas coisas... de motor , de primeiros socorros que a gente nunca vai usar... além de mostrar a cada três frases um profundo desconhecimento pelas regras de concordâncias verbal, nominal e social... (machista) uó... aquelas inaceitáveis pra um instrutor, seje ele do que for...
Aquelas aulas me fizeram sentir segurança só nas coisas que eu sei ou acho que sei... Parei as aulas de direção, porque prefiro as aulas de semiótica greimasiana, das estruturas e das suprestruturas baktinianas, dos pressupostos argumentativos de Perelmam,, dos percursos semânticos dos textos... E deixei o percurso físico da minha casa à faculdade pra fazer no banco do carona mesmo.
As coisas que eu naum sei saum muito difíceis e naum quero elas naum... Vejam só o que aquela porta que tem péssimo gosto pra escolher profissão e camisa fez comigo...
Aí meu pensamento foi voltando à aula sobre “repas” e fui percebendo que eu estava me sentindo até muito feliz diante daquele tanto de coisa que eu naum sei... naum sei pedir rum no bar, naum sei andar de ônibus em Genebra, naum sei falar com a Grobet que naum sei onde vendem os livros dela e que eu cito ela na minha dissertação, naum sei usar o praat, naum sei cozinhá... Putz!!!
A culpa pra mim dessa segurança recuperada diante do novo é da porta aberta que a gentileza e a elegância da madame Gonçalez coloca diante de nossos olhos... Como ela deixa a gente a vontade pra errar, pra tentar de novo,... Como ela me deixa a vontade diante do que eu naum sei, meu deus!, Ela faz a gente se sentir capaz de aprender... E pra aprender um mundo aqui em Genebra eu fico pontualmente 1h e 45 por semana. Saí da aula pensando que eu tava sendo muito severa com a pobre porta-instrutor... mas passei pela ponte pra ouvir meu trompetista preferido... Ele naum tava lá... Tava lá um outro... tocando um violão desafinado, com uma voz enlouquecida também querendo orquídea... Tá louco Garoto!!!
Quer saber? Todos os dois, de certa forma, estão protegidos pelas coisas que eles naum sabem... E eu sendo enganada pela cigana, na confiança de que sei de alguma coisa pra criticá-los. O que me redime é tudo aquilo que eu naum sei... Aprender ou naum saber simplesmente como a lidar com as coisas que naum sei... que naum controlo pode ser um bom mote pra tirar minha carteira de motorista assim que chegar no Brasil, ou naum... A porta da auto-escola naum é maior nem taum pesada que a porta da Saint-Pierre. E eu entrei lá.
Hoje o apartamento de cima pegou fogo... Ai que medo...
Acho que eu tinha que levar minha relação com esse instrutor pra uma conversinha com o Júlio...

O LeMan , as orquídeas e os Homens...

Vigésimo terceiro dia 13 de outubro de 2008.


As orquídeas daqui saum lindas demais...as brancas, as violetas, tem umas quase azuis... Elas chamam mutio minha atenção... Fico nas vitrines um tempão olhando... E chamaram especialmente hoje que resolvi ir mais cedo pra casa pra cuidar dos TCC das minhas orientadas... Elas taum sentindo as primeiras dores do parto que é produzir um texto acadêmico. A vontade da gente é mandar parar tudo e voltar o neném pra dentro, mas naum tem jeito. Chega uma hora que ele quer sair e tem de sair... o que a gente tem de fazer é de cuidar pra que ele saia um ser digno que habitar uma biblioteca universitária. Eu me lembro do meu primeiro texto acadêmico de verdade... Foi um texto pra apresentar num congresso em Uberlândia... Foi a primeira vez que andei de avião... O parto foi taum doloroso que meus cabelos caíram aos tufos no banheiro do Sanari. Mas ele acabou nascendo... e os cabelos também. Hoje eu sei da bosta que ele foi... mas foi... e os cabelos também... kkkk
Agora estou começando a gostar do que eu escrevo... Mas ainda naum consigo escrever em primeira pessoa tipo o Guilarduci... Até gosto desse certo anonimato acadêmico. E um dos artigos que mais gostei de escrever foi esse que ta nascendo com a revista da UEMG... Ele é um dos meus preferidos... E a revista também... Até recebi convite pra escrever para outra revista... mas sabe, né... preferi a Mal Estar e Educação, significantes e significados à parte... O sentido que ela carrega é de muito trabalho e dedicação de um grupo chefiado por um cara enigmático chamado Fuad... Nunca consegui descobri de verdade o que esse cara pesquisa... E ele disse que usa até a AD... Pode isso?
Agora todo mundo deu de usá a AD... até um povo da UFSJ e da Educação... Puxa vida!!! Só sei que ele tá gestando pra gente essa revista... meio barriga de aluguel... meio pai legítimo... Mas a guarda é dele... ou a gente vira bicho!!!
Bom... Saí tarde da faculdade e a noite tava querendo cair... fui andando bem calmamente... pela cidade e resolvi passar pelo centro só pra ver lua e as orquídeas... Mas o que chamou mais minha atenção foi o LeMan... Gente ele tava num agitamento... Lembrei da crônica que eu li na casa do Horácio que falava do trabalho do LeMan... E é isso mesmo... ele deve ficar na maior felicidade quando sai daqui de Genebra... aqui as pessoas usam a energia dele pra tudo até pra ficar gozando naquele jato o dia todo... quando chega de noite mais suga... Coitadinho do rio... parece a gente na UEMG... Mas com a revista nós vamos ter nosso gozo também... Gente! As orquídeas daqui saum lindas... comprava todas... justo eu que naum gosto de ganhar flores.... Eu comprava pra dar prum monte de gentes, mas o primeiro pra quem eu ia dar era pro moço que fica tocando trompete na ponte, o segundo era pro Antoine...
A gente fica num corredor esperando ele chegar pra aula... A gente fica lendo ou conversando e quando ele chega... tudo pára.... ele vem fofo e diz bon jour pra todo mundo, mas olha pra mim e diz só, só, só pra mim... bom dia!!! com um dí bem carregado. Eu viro jato do LeMan na horaaaaaaaaaaaaaa..., e é preciso máscara de oxigênio pra todo mundo no prédio... inda mais hoje que ele começou a falar do modelo... e o povo naum sabia nem o que era ATO.
Fiquei quase uma hora na sala dele tentando aprender a mexer como o praat e prosograma... Difícil... Difícil como achar um homem que mereça ganhar flores quaisquer, inda mais orquídeas...

O meu nariz

Vigésimo segundo dia 12 de outubro de 2008


Quando eu como muito chocolate meu nariz fica cheio de espinhas.
Quando eu fico sem transar o meu nariz fica cheio de espinhas...
Donc... acordei nesse domingo, dia das crianças, com o nariz mais batatudo de Genebra.
Os chocolates, estou experimentando um por semana, quer dizer uma caixa por semana. Quanto ao segundo item, prefiro naum comentar.
Recebi uma mensagem em vermelho de dia das crianças junto com um diário lindo que causa inveja a qualquer um que entre nessa viagem.
Estudei a manhã toda, passei aspirador de pó no quarto, fui à missa.
Vi o Helder pela primeira vez na web. Parece que eu tava perdendo a textura da voz dele, perdendo o ritmo da fala dele, perdendo o movimento do tom da voz dele que dá uma subida no começo de toda frase que ele vai dizer. A força das palavras acentuadas, como indivíduo, mas a palavra mais bonita na voz dele é Janaína... Perdendo o som dos nossos silêncios, o som de chuva dos nossos e-mails. O som das nossas risadas incontidas ao lembrar da clé USB ou das madrugadas na casa do Jô!!!. A surdez do seu primeiro palavrão e dos muitos que o seguiram. Do seu conjunto de palavras ...manoel de barros... adélia prado... rosa... que vai andando terreiro a fora como as galinhas da casa da Fátima.
Foi lá no meio das galinhas soltas, e uma presa que a gente se encontrou debaixo do pé de jabuticaba...
É a Narizinho que gosta de jabuticaba... Agora o tocadinho cabe...

Até dancei…

Vigésimo primeiro dia 11 de outubro de 2008


Acordei bem toda vida… Peguei a minha caneca da Lê, da Kika e Jana que eu ganhei pra tomar meu café... Acho que a gente combina muito. Naum eu e a caneca... Mas eu a Kika e a Lê. A gente se encontra sempre da forma mais louca... pra ouvir coisas loucas... E achamos tudo muito engraçado... A gente conseguiu uma cumplicidade muito bonita... Livre... A gente pode passar meses sem se ver que quando a gente encontra já foi tudo falado... A gente aprendeu a lidar com a ausência física... mas tem horas a saudade aperta... Ou tem uma novidade massa pra fofocar, ou a gente quer só mesmo falar... Aí a gente despenca a falar... quando a gente bebe entaum... a gente morre de rir e de falar de tudo... Acho que eu amo elas... O pessoal da casa aqui... disse: Que rico, niña, tuya caneca! Eu disse merci. É linda... mesmo... Essa é a Kika... “A bonita”, todos os meninos que a gente queria namorar, gostavam... era dela... Essa é a Lê “A competente”, a mais eficiente... foi até a primeira de nós a transar e a casar e a fazer a maior lindeza que nós já fizemos que chama “Maria Antônia” ou Maricota (só pra mim)... E eu sou “A estudiosa” por isso estou aqui e solteirona em Genebra...
Me programei pra visitar a praça da Nações unidas... O caminho era longo, mas fui a pé mesmo... Queria andar, ver gente... lugares... Genebra é um cartão postal... todas as praças, todos os parques tudo é muito bonito... cuidado... até a linha dos três é limpinha e organizada... Eu gosto muito da praça da estação... A praça de estação de Barbacena. Lá entro dela é muito legal... Gostava de ir pra lá namorar... O Elder dizia que lá parecia um portal pra outras dimensões... Sei que depois que ele morreu eu é que naum voltei mais lá... Sabe lá?... As vezes eu converso com as estátuas... Ver as linha daqui me fez lembrar das dimensões daí...
A praça é um deslumbramento... tudo claro, limpinho e povo lá aproveitando a tarde, conhecendo como eu. Fiquei pensando do Lula lá dentro, sem trocadilho... Fiquei pensando na dissertação da minha amiga “Regi” e em como ela desvendou os mistérios do discurso do Lula quando ele tava se preparando pra vir aqui pela primeira vez... Foi muito bom ter notícias dela nos últimos tempos... Saudade demais das saladas de frutas, dos chás de nossas viagens... Tanta coisa mudou na sua vida. Na minha também... Larguei o Mil de mão, estou na metade do meu doutorado e fazendo um estágio aqui... em Genebra...
Fui acordada por uma passeata chiquésima de uns latinos-americamos contra a dominação dos Estados Unidos... Fiquei lá um pouco pra dançar... Eles gritavam... El Pueblo unido jamás será vendido!!! Eu cantei também... cantei mesmo... Mas a passeata foi e eu tinha que ficar vendo outras coisas...
Fui a um museu lindíssimo de porcelana.... Ver porcelana tá no mesmo nível de assistir missa... É um saco!!! Mas o teto do castelo era um desbunde... Eram pinturas com passagens dos mitos gregos.... Santo Helder dos Mitos dos últimos dias...! Cês tinham que ver... No quintal, aliás, castelo tem jardim... eu dancei... sozinha... mas dancei.... Celine Dion. Tout L’or des hommes... Tirei foto de mim mesma e pedi pras pessoas me fotografar tamém... Pedi pra estátua me fotografar... O bom de conversar com as estátuas daqui é que elas sabem português... e adoram meu palavrões... Elas taum sempre peladas...
A tarde voou e naum deu pra conhecer por dentro o museu da Cruz Vermelha, mas eu vou voltar pra ver... quando tava vindo embora... escuto a passeata de novo... fui até ela... O povo unido que jamais será vencido estava parado na frente da embaixada dos EUA. O povo dizendo naum aos americanos e os seguranças correndo de lá pra, de cá pra. Lá... Deve ser um trabalho muito difícil ser segurança de embaixada americana. Dependendo do país só se faz trabalho por amor a Alá.... Acho que o trocadilho aqui também naum deu... Eu sei que eu naum tenho ares para o humor... como o Mário e sua velhérrima piada da tartaruga...
A passeata voltou e eu atrás dela... e acabou com uma dança linda típica da Bolívia. Tirei fotos... e até dancei mais...

Cama, carnes e cheiro

Vigésimo dia 10 de outubro de 2008


Todas as páginas que estou escrevendo deste diário foram escritas mais por necessidade do que por qualquer outra coisa. Quero mostrar pra pessoas que amo o que os meus olhos estão vendo, como estou sentindo nessa grande viagem da minha vida. Grande por vários motivos que naum vou aqui... agora numerá-los. O fato é que escrever estava sendo um grande prazer... Estava funcionando como um momento de catarse... Sempre que chegava em casa..., cansada ou naum, queria escrever.. Pra contar, pra dizer... E só dormia depois de escrever... chorar, naum necessariamente nessa ordem... Quase sempre escrevo na cama... e depois o computador fica ligado pra iluminar meu quarto, já que eu naum me atrevo mais a ligar o abajur.
Mas escrever essa sexta naum foi possível na sexta. Foi um dia atípico... Sai cedo de casa, tinha que enviar o trabalho da Anne Grobet e queria passar na livraria da UniMeal pra comprar uma gramática de francês a pedido Madame Gonçalez e pra comprar os livros do Modelo. A livraria é enorme... E quando eu tava entrando uma senhora tava saindo com um quente dois fervendo sei lá porque... Entender francês len-ta-men-te é uma coisa... Entender xingação saum outros quinhentos francos. Encontrei só o 1995, mas gostei de tê-lo nas mãos... Saí, passei na universidade cumpri com todas as minhas obrigações e saí procurando livrarias a fora o MAM 2001. Fui pedindo informação aqui outra ali até chegar numa livraria linda e grande... Não achei lá a seção de lingüística... Nada é perfeito... mas tinha uma a cara da Maria Antônia, da Stella, da Carla... Não tinha o livro mais importante da AD!!! Mas a moça encomendou pra mim... semana que vem eu volto pra buscar... Caro!!! Beth do céu... !
Voltei pra casa pra preparar alguma coisa pra comer... Todas as carnes estavam podres... Só de escrever o cheiro volta... carnes... peixe... tudo estragado... além da minha incompetência revelada da forma mais fétida... Acho no fundo que houve alguma coisa... Tudo estragar junto...
Não consegui comer direito com todo aquele cheiro... um cheiro que ardia meu olho e meus brios... Tudo no lixo... (outro erro)...PORRA!
Saí de casa com aquele cheiro nas mãos... no cabelo, em mim... Sexta é dia de falar lá em casa é dia de falar com o Helder. Encontrei pai, mãe, Carla... É bom vê-los, falar... Vi Horácio, mas dessa vez quem falou fui eu...
E aquele cheiro na minha mão, em mim... Quando o Helder chegou... eu já estava impaciente comigo mesma, com as carnes daqui, com a falta carnes de lá, com o cheiro de incompetência... Ahhhhh!!!! Falamos alguns minutos... sempre é taum pouco... Quando o moço disse que faltavam 5 minutos pra fechar...me despedi de todo mundo... fechei todas as janelas e fiquei gastando os cinco minutos na frente da tela vermelha do computador... pensando... Se alguém, qualquer um que tava online me dissesse volta pra casa agora! Eu, com toda a minha absolutice, obedecia... nem voltava na casa da Gema pra buscar minhas coisas... O que eu ia buscar lá... se nem o livro do MAM eu consegui comprar...
Todas as choradinhas de até então foram tragadas pelo tsunami da sexta das carnes podres... Subi a rua soluçando de tanto chorar... e nem aí pra quem tava nos bares...Quando fui entrar em casa tive que controlar o choro pra naum acordar ninguém à 12h. Deitei, fiquei toda encolhidinha pra me sentir em casa... na cama da mãe no sábado de manhã como a gente sempre fazia... eu, jef, Carla, pai e mãe... todo mundo na cama... Agora a gente naum fica mais na cama da mamãe... As coisas mudam... A gente quer outras camas... Mas a idéia da cama da mãe no sábado vai ficar como a mais doce lembrança de família que vou um dia contar pro(s) meu(s) filho(s).
Em posição fetal, dormi... E o choro... acabou que me lavou e levou aquele cheiro de mim...

Plat du jour: Omelete avec goût de pain

Décimo nono dia 09 de outubro de 2008


Avant-propos:
Meus leitores, meus mais íntimos e doces e lindos e queridos e maravilhosos e únicos amigos, peço um favor. Tenham com-paixão de mim... Por isso naum levem a ferro e a fogo meus graves erros de gramática. Digamos que eu tenha uma certa licença poética e política afinal aqui é Genebra... Por favor, os que suportam, leiam com os olhos de coração...

Naum consegui almoçar, já no café da manhã aquele nó já tava junto de mim, resolvi ir logo pra universidade e levei coisas pra comer por lá. Fica mais barato, se a fome bater!
Na aula, gente!, a aula da Anne Grobet é um estouro... Ela fala numa rapidez... que eu depois tenho que ficar perguntando pros colegas que raio passou pela sala. É engraçado... a sala onde ela dá aula é taum escura. Quando chego fico com mais umas duas meninas fazendo exercícios de outras disciplinas. E reparei a escuridão da sala... Mas quando ela entrou... o sol até saiu... acho que ele tava dentro da mochila dela. Só pode! São Rodrigues do céu! Quem é mesmo a deusa do sol? Se for deus, ele acaba de virar mulher... Ai que vontade de ser Grobet quando eu crescer! Sabe qual foi a tarefa dela... uma carta de motivação em francês... Como se eu já naum tivesse... como é que eu vim parar aqui, mesmo?
Mudando o mote, depois eu volto...
No dia do campeonato de peteca na casa do Marcelo, (campeonato organizado pelo Marcelo e pelo Maurício e que teve como vencedores... o Marcelo e o Maurício... naum sei o porquê apesar de toda minha torcida pelo Cristiano) a “Clara”, na hora do café, tava falando da dissertação dela e passou a falar do pão que a gente tava comendo e que ela tinha feito. Meu olho lagrimejou de inveja... Gente!!! Ela faz pão e dissertação... Isso ficou tão mal resolvido comigo que no fim de semana seguinte fiz o almoço de domingo lá em casa... Mas nem de longe tinha o gosto do pão da “Clara”.

Omeletes avec goût de pain
Ingredientes
3 Projetos (1 de doutorado, um pra FAPEMIG, um pro Antoine)
2 Cartas de motivação ( uma pra FAPEMIG, outra para Antoine).
7/8 de Teoria – a mais complicada (naum mais que a hermenêutica do Mauro, a psicanálise do Helder e a arte do Cláudio).
2 Orientadores
Uma generosa porção de amigos
3 bolsas FAPEMIG mais passagem de ida e volta (não se esqueça do seguro)
Um montão de reais que ao fogo diminuem em parcos francos
Um pé de família recém tirado da terra.
Uma cabeça de cebola cheia de invencionice e que faz os outros chorar...
Algumas folhas de chatos e mal-agourentos... (Atenção.. só pra dá gosto...)
Pingo de lágrimas de saudade

Modo de preparo
Bata tudo bem calmamente de forma firme, numa vasília comprada no COOP da rua De La Dôle e com o garfo emprestado da casa da “Gema”. Reserve por uns meses... Esquente a panela... Coloque todo conteúdo num avião Brasil-Portugal- Genebra...
Deixe tomar corpo, coloque o recheio, a gosto. Eu prefiro prosódia derretida...
Dobre uma parte, depois a outra... Naum tire do fogo direto...
Sorria para a omelete... Sinta-se por instantes um cozinheiro...
Tire foto da omelete.

Modo de servir
Sirva à francesa.

Porção
1 pessoa só.

Hoje entre Gemas e Claras me senti feliz... Comi a comida mais gostosa que já comi aqui, porque minha omelete tinha mesmo era gosto de pão.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Nó de marinheiro

Décimo oitavo dia 08 de outubro de 2008


Acordei de mais uma noite mais ou menos dormida... O que me mata é acordar e naum escutar a TV xxxxiando. TV é pra xxxxxxxxxxxiar de madrugada. Sinto falta de ver desenho e muito muito de ver novela. Sinto falta de ouvir rádio... essas coisas. Em homenagem aos meus alunos da sexta série azul... “Sem chorumelas...” Chega!
Resolvi sair de tênis pra poder caminhar mais, tentar achar jeitos diferentes de chegar à faculdade... Hoje meus olhos já naum querem ver tudo... naum querem guardar tudo que eles vêem. Hoje eles já tem um pouco de Genebra neles. Aí olho para os detalhes... Olho pro povo que fica na praça na hora do almoço tomando cerveja talvez pra agüentar a fome, e olho pra moça que todo dia almoça naquele restaurante chique sua salada e toma sua água Perrie.
Hoje olho pra cá com um olhar menos apaixonado. Mais oblativo. Acho que é assim... a paixão deseja e o amor oferece... Quero me oferecer a está cidade... Não vou mais me negar a ela.
Entrei toda toda na faculdade pra falar com a mamãe (sempre por mim... sempre por nós...) sobre contas e pagamentos. Ontem eles nem me deram bola!!!! E acho que o povo tá certo mesmo... eu tenho que viver mais as coisas daqui...
Estou com um nó no estômago... que naum me impede de comer, mas que tem me acompanhado... Naum sei se é difícil mesmo digerir a solidão... Se é difícil digerir a minha própria comida... A cada dia que eu cozinho tenho mais certeza que sou uma ótima analista do discurso. E por falar nele... É taum engraçado tenho lido e escrito tanta coisa em francês que quando vou escrever aqui... algumas palavras já me vem em francês... Folie, né?! O caminho que escolhi é mais curto... vejam só...
De tarde conversei com Horácio. Tive vontade de escrever milhares de e-mails... Todos diferentes. Todos dizendo de cada momento. Todos dizendo do meu egoísmo. Todos dizendo de samba e de carrocel e cheiro de café. Todos eles foram para a página de e-mails naum enviados... Todos nem existem... Todas as coisas que naum estão aqui hoje eu naum quero dividir com ninguém. Se a nossa salvação é pela palavra. Não me salvo hoje. Hoje me calo com meu nó.
Na esperança de que algum marinheiro me ajude..., só marinheiro pra esse nó!... Me deu um dúvida... o homem que trabalha no barco que navega no rio também é marinheiro? Marinheiro também navega em rio? Marinho só navega no mar. Sabe pq marinheiro sabe de nó... Porque Marinheiro só....! Pai, é nó que fala e não nouuu!!!!
Com o mesmo nó no estômago voltei pra casa e naum quis mais nada, deitei pra dormir mais uma noite sobressaltada sem xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

É muito fácil criticar o pobre!

Décimo sétimo dia 07 de outubro de 2008


Hoje fiz meu primeiro contato naum profissional ou para minha sobrevivência aqui, foi rapidinho, mas... Saímos da aula, que foi a maior loucura... a professora pediu pra nós, em grupos de três pessoas, que fizéssemos a descrição de uns personagens lá... meu grupo era um rapaz, novo... Ah! Naum me perguntem nomes... Tenho dificuldade de guardar em português imagina em outras línguas. Ele é italiano e o outro é uma graça... ele (o outro) naum tinha nem entendido o que a professora tinha pedido pra fazer... Sentamos os três e começamos o trabalho... Descrevemos, à medida que fomos nos entendendo, o homem, só pelo que víamos... seu cabelo, sua barba, sua roupa seu olho... essas coisas, um pouco em inglês um pouco em italiano e muito, muito pouco em francês. Eu e a gracinha do italiano, que morra em Lausanne e vem pra cá todo dia e estuda comunicação social, fizemos tudo... O nigeriano, fofo, que naum entendeu nada desde o início... e que estuda relações internacionais, ficou lá com aqueles dentões lindos brancos rindo pra gente... dizendo oui e balançando a cabeça... Depois os grupos se misturaram e veio uma japonesa, pro nosso grupo falar do mesmo personagem que descrevemos... Que interessante! A gente tem maneiras muito peculiares de abordar os objetos, o mundo... E isso pode ser pensado também sobre quem somos nós, de onde viemos... sem viagem... Lembrei do MAM... Só me permito viagens interpretativas a partir da concretude do texto, da enunciação... E a japonesa havia descrito o mesmo homem que a gente com hipóteses... Imagino que ele é russo,... Russo? Pq? Imagino que ele é professor? Pq? Ela naum me respondeu com muita certeza naum... E eu fiquei esperando pra entender a forma como ela se apossou do objeto homem pra descrever... Quase que eu disse... vai ali pega... um crepe de chocolate... Mas preferi servir pra ela... porque ela me ensinou que o diferente também me constitui... e ela deve ter achado uó nossa descrição do visto. Como diria meu mineiríssimo e cosmopolita Drummond – Ver o visto... É isto... Idem... Idem... Idem... Gostei mesmo foi do inglês que disse que o homem da japoensa naum tinha cara de professor coisa nenhuma, tinha cara mesmo era de playboy. Aí saímos e falamos de nós, que legal... sem ser pra pedir pra comer, pra dormir, pra andar... Só pelo prazer de se comunicar com o outro...
Dia de fazer contas... odeio contas...
Fui para a palestra do Leonardo Boff, aí que delícia... Ele pediu desculpas pelo francês miserável, mas que naum tinha nada de miserável... Eu entendi tudo... Ele foi de uma elegância, de uma fineza próprias de um brasileiro... O auditório estava lotado... muitas cabeças brancas... poucos jovens...
Quando ouvi o Lenardo Boff em Barbacena naum fui capaz de entender o que ele queria dizer com essa coisa de ecologia... De ecologia da libertação... parece que a ficha caiu... Apesar de achar tudo meio desconexo teoricamente...
Ele falou de Petrópolis (Jô do céu, me senti em casa) Mas pode deixar que eu naum saí pelada por aí naum... !!!) Ele falou com tanto carinho... Eu adoro Petrópolis... Adoro o Quitandinha, adoro casa do Jô com Nina ou sem Nina... Eu adoro os filmes do Jô, eu adoro os discos do Jô... Gosto de dançar com o Jô... E gosto do jeito que ele respira pra falar... E adoro que ele fica querendo acabar com a Nina...
Falou da amburguerização do mundo e foi aplaudido, falou de pobres. Fiquei pensando se as pessoas que estavam ali sentadas sabiam do que ele tava falando...? Falou do Lula e da proposta de libertação dele pela via política... que busca uma libertação histórica... E dos seus ministros e secretários, que muitos conhecem as comunidades de base porque trabalharam nelas, assim como a postura sindical do Lula... Ai que bonito!!! Apresentar esse Brasil pra eles!
E acho que eles naum sabiam mesmo do que ele falava... A primeira pergunta foi de uma suíça que falou numa rapidez que naum soube respeitar a naum proficiência do convidado... mas que perguntava o que os pobres do Brasil faziam em favor da Amazônia , num tom de “vc devia tá falando pra eles, naum pra nós, ricos de cá”... Ele começou com a maior calma do mundo a reposta...
- É muito fácil criticar o pobre!
E perguntou pra ela quem é que produz a desigualdade social, a pobreza... e mais mil coisas que fez com o auditório o aplaudisse de pé.
Ele terminou falando de posturas que poderíamos tomar pra viver essa verdade que ele tava professando... E disse num tom sacerdotal pra gente fazer uma opção por uma vida simples.
Como era tarde minha idéia era passar no MAC e fazer um lanche...
Hoje naum dá pra fazer...
Passei na mercearia dos sul-africanos da esquina de casa, comprei pão.
Fui pra casa cheia de Brasil!
Pena naum ter aqui com quem comungar...

As crianças e lavanda

Décimo sexto dia 06 de outubro de 2008

Dizem que quando a gente naum pode desenvolver bem um sentido a gente sobrecarrega os outros... Como meu paladar e tato aqui em Genebra quase que naum uso... Tô muito olfativa...
Eu tinha curiosidade pra saber como era o cheiro das pessoas daqui, queria saber se as pessoas do velho mundo cheiravam diferente. Gente é gente e cheira igual... Mas os cheiros das comidas saum diferentes, o cheiro do café é mais forte, o cheiro do chocolate é diferente, as margens do Le Man, naum têm o mesmo cheiro das margens da lagoa da Pampulha. Eu ainda naum cheirei o Auchlin, mas vou tentar fazer isso logo, logo.
Hoje a aula foi boa! Ler o texto antes me deu mais segurança! Depois conversamos e acho que eu consegui falar mais ou menos umas 10 frases completas... Hoje fiquei no departamento, a Cecília não apareceu... aproveitei pra falar com o povo lá de casa...
O Martinho perdeu!!! Gente... Allez les reouges! Que São José, protetor dos trabalhadores, que é do PT com certeza... rogai por nós e iluminai nossa prefeita. Ele e os Anjos Amorins...
Vim embora com chuva... E quando estava passando do Plainpalais.... Duas meninas lindas me viram e vieram correndo. Falei: - fala lentamente...
Acho que existem dois tipos de crianças. A saber: as crianças (fofas, lindas, obedientes, sensíveis, alegres, arteiras o suficiente.... essas coisas) e os herodinhos (gritadores, mandões, boca suja, birrentos, seachudos, ,,,um porre)...
Concordo com a Dona Arlete. Devia haver um lugar especial pros herodinhos. Será que tem jeito de escolher na hora de fazer... Se for de ladinho, sai criança... Se for papai-mamãe, sai herodinho. Então tá combinado nunca mais faço papai-mamãe.
É assim... tem crianças que às vezes começam a virar herodinho... É só contar pra elas a história do Herodes com todos detalhes sórdidos que elas voltam a ser crianças. Agora, quando ela acostuma muito a ser herodinho... ah, naum volta a ser criança naum... Mesmo assim eu gosto muito do universo infantil... Gosto e até imito o jeito delas falarem - criança ou herodinho. Gosto de seguir o raciocínio delas... Gosto de como elas brincam com os significantes e criam significados inesperados... ou o contrário...
E aquelas duas meninas...crianças... começaram a silabar as palavras pra que eu pudesse entendê-las assim como eu fazia quando tava alfabetizando... Me senti menina como a da poesia que ganhei... E fiz tanto esforço pra entendê-las que entendi... Li que elas queriam vender raminhos de lavanda pra juntar dinheiro para um acampamento... Começou com 4 francos, depois 3, 2, 1,5 (isso é ação de herodinho...mas eu tava lendo, tava no jeu... toda forma de comunicação é um jogo...) Ao ganha-se ou perde-se...
Acho que nós empatamos, comprei a lavanda... Que perfume... Olhei pra trás... As meninas saíram saltitando levando seus destinos tão iluminados de sim...
E eu também dentro de mim... ainda por cima cheirando à lavanda...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

1996

Décimo quinto dia 05 de outubro de 2008

Parece pensamento plugado... Quando vi minha caixa de e-mails e vi lá o Takao... Comprovei que a gente tem mesmo uma cumplicidade... Ele respondeu o e-mail que nem havia mandado ainda... Usou inclusive palavras minhas. Ou será que fui eu que usei palavras dele? Lembrar de 1996 e de como nos conhecemos... no vestibular e de como passamos a fazer parte da vida um do outro... Dos nossos desejos, de quem era a gente foi uma viagem legal... Tenho mais de mil repostas pras perguntas dele... Esse domingo tá muito estranho... Sentei na margem do lago pra ler e ver as pessoas passarem. Estou especialmente me sentindo só. Acho que está sendo uma experiência muito diferente. Me sentir sozinha pra comer, pra dormir, pra lavar meu prato, pra estudar, pra pedir ajuda, pra escolher... Tá sendo uma experiência muito peculiar. É bom estar sozinha... às vezes...
Fico vendo pessoas aqui que vivem assim o tempo todo... Gente que sai pro mundo e vive nesse mundo... Gente que está de passagem sempre... Andam rodando o mundo... Conhecendo o diferente... Sempre sendo estrangeiro... Isso naum faz parte de mim... As tradições mineiras nas quais fui criada naum me permitem ter o mundo como lar. Eu preciso naum me sentir estrangeira... Lá na LAN onde sempre fico, já estou familiarizada com as pessoas... Mas foi muito engraçado o que aconteceu... Eu cheguei e fui ler o e-mail do Takao de repente... alguém colocou a mão nos meus ombros... eu estava tão inteira na leitura do e-mail... que demorei pelo menos 5 segundos pra olhar pra trás... Quando olhei... o rapaz falava comigo... numa rapidez.. e eu... só sabia que ele era um estrangeiro ali naquele momento... Como que entra assim no meio do e-mail do Takao??? Ele repetiu umas três vezes... e eu olhava fixamente pra boca dele... e só ouvia... “eu sou estrangeiro”... Mas a estrangeira era eu... Eu disse pra ele falar lentament.... Num tom bem Kirk... Ele perguntou se eu compreendia espanhol... E eu disse não. Se quiser falar comigo tem que ser em francês... Ele queria que eu trocasse de lugar com um cara lá... Sabe porque o cara naum veio pessoalmente falar comigo... Porque era estrangeiro... Bem feito.
Naum falei com o povo lá de casa... Deixei todo mundo votar em paz... Pois já havia avisado a minha mãe pra votar na Danuza, porque se o Martinho ganhasse e minha mãe tivesse votado nele eu naum voltaria para o Brasil... Não pude comparecer ao encontro marcado... Allez les rouges!
Hoje Sancho e Quixote se encontraram. Falaram de perdas, de ganhos, de Freuds e de saudade!
E a noite acabou de cair...
Em 1996, eu naum sabia quem eu era...
Em 2008, começo a perceber que quem eu sou está no que eu não sei principalmente de mim.
C`est e la vie.

Queimei o fusível...

Décimo quarto dia 04 de outubro de 2008

Tive que comprar uma sombrinha... O dia começa até bem, mas de repente cai uma chuvinha. Meu cabelo num pode com isso... Quando essa chuva fininha começa a cair as genebrinas de cabelo escorrido e sem chapinha andam assim normalmente na rua... Que ódio... Ninguém nem corre... tenho que entender a relação desse povo com a chuva. Sei que ela é fria assim como devem ser as fabricas dos chineses que produzem essas sombrinhas para todo o mundo. Mas antes deixa eu contar do fusível, porque tem tudo a ver com a noite passada. Quando acordei fui direto acender a luz... acendeu... Liguei o computador... ligou... Nossa senhora da Cemig de Genebra ouvi minhas preces! Será que foi sonho... de qualquer maneira não coloco de novo a tomada do abajur na parede... Fui tomar café... A Gema estava fazendo as sobrancelhas e como sempre me perguntou... com muito carinho como foi minha noite... Ela é taum bonita... É taum branquinha... E me perguntou: - Você viu ontem que faltou luz... Eu falei ahmmmm! Ela me disse que queimou um fusível, que ela teve que comprar outro e que tinha uma pessoa consertando e que era sorte que o que havia queimado naum era tão caro... Gente!!! E minha cara de paisagem...Vogue!!!! Até doer... Num vou contar naum... só se ela me perguntar...
Fui ao mercado e quase compro um bifinho de cavalo. Cavalo é um bicho muito gente pra comer, né?
Fui caminhando bem devagar pela cidade a fora... Hoje era o dia dedicado a Conhecer a Catedral de Saint-Pierre.
A porta é tão grande e naum tem emenda de madeira... As árvores que fizeram aquela porta... É tudo tão grande... Naum tem aquelas enfeitação das nossas barroquices... Eu prefiro as nossas... Adoro aqueles anjos com cara de sem vergonha olhando a gente... Naum vi imagens... É uma sensação diferente! O lugar naum parece tão celestial... sei lá. As naves da igreja formam uma cruz... Vi uns postais lindos, quando fui pagar o moço me ofereceu um tur na torre norte da catedral... Gennnnte eu aceitei, paguei quatro francos pra sessão de análise mais eficaz do mundo... entrei pela porrtinhola e fui subindo... uma escada apertada que só cabe uma pessoa que ia subindo, subindo, subindo... Ai que medo, comecei a tremer... detesto lugar apertado e alto... O quê que eu fui fazer ali....envencionice.... Saint-Júlio, rogai por mim... estas escadas parecem as escadas de um dos sonhos recorrentes que tenho... ela nunca mais que acabava fui me sufocando... minhas pernas doendo... quando cheguei... Tive que sentar uns dez minutos pra voltar à realidade, fiz que tava cansada... pras pessoas naum perceberem que eu tava era passando mal... mal mental, mas mal...
As imagens de lá são lindas, é possível ver a cidade. Há tantos meandros... Parecia que a qualquer momento um monge corcunda viria me cumprimentar... Tirei fotos. Fotografei o sino. Perecia uma cena do livro O nome da rosa, impressionante... O que mais me movia ali naum era a beleza da vista ou os calafrios do lugar... Era a vontade de sair dali... pela mesma escada que eu subi... Quando peguei no corrimão pra voltar, tremia tanto que até errei o corrimão e desci três degraus de uma veizada só... PORRA! Na igreja naum pode...
Pra descer foi a mesma sensação onírica... impressionante... Quando abri a porta me senti como o Rodrigo Santoro no bicho de Sete cabeças quando sai da solitária incendiada... Tive que sentar... O reconfortante foi ver um herodinho também saindo de lá com a respiração como a minha... Será que ele viu Herodes por lá... Continuei... a visita. Gostei muito foi da capela... colorida... Tinha uma das janelas que era o Saint-Pierre em pessoa com chave e tudo na mão...
Recuperada. Sabendo que a Janaína que subiu aquela escada naum era mais a mesma que desceu... Fui visitar o sítio arqueológico da igreja... Num disse... era mesmo mais de uma igreja... A primeira igreja foi construída no século IV e depois a segunda e agora a terceira...
Ia andando com sensação de encontrar com Herison Ford a qualquer momento... Nem ligava.. Acho ele um gato mesmo. Parei de pensar nisso depois de lembrar do último filme em que parecem aqueles ET. Gente... Fantasma ainda vá lá, meu medo supera... Falo comigo mesma: - É coisa da sua cabeça... E tudo certo... mas essa ETzada eu num suporto... Com escada ou sem escada.
Foi uma visita inqueitante. Esse é o adjetivo... Desci de volta pra casa com muita fome e muito cansada... Subir e descer aquela escada me deixou exausta... De fusível queimado.
Sancho só... Foi dormir. Seu senhor deve estar por essas ruas medievais procurando a chata da Dulcinéia.

A igreja e a luz

Décimo terceiro dia 03 de outubro de 2008


O meu pai aqui diria... coisa de trator... E eu ia dizer... mas a culpa naum foi minha, pai!
Acordei mais tarde, levantei às nove horas da manhã... Não tem aula mesmo... Continue meu resumo... Vou à faculdade pra falar com o meu povo lá de casa... com o Horácio... falar naum, ouvir... Ele fala o tempo todo... e eu morro de rir... até o povo ficar me olhando meio de lado... O povo aqui olha meio de lado mesmo... A tarde voa leve...
Programei depois das sete de passar na Catedral de Saint-Pierre e fui... Entrei numas ruas erradas... tudo com o mapa... meu senso de direção sempre foi horrível... me lembro do tempo que morei com o Takao e adorava ouvir ele falando de ruas e de lugares em BH como se eu soubesse de tudo...
Saudade, Takao... Saudade de nós lá... da minha cama no chão e de quando ocê chegava e ficava massageando meus pés... saudade da rede... saudade de nossas conversas... saudade dos debates sobre AD em primeiro nível... saudade da sua comida politicamente correta... carboidratos, proteínas.... saudade do Mil... Saudade das saídas e dos nossos vinhos... A sua última indicação foi Clarice... Uma aprendizagem ou Livros dos prazeres... Quase derreti de chorar na rede... Depois te tanto ler durezas sobre o discurso achei que tinha desaprendido a ler o universo da Clarice...
Mas é uma saudade diferente.... Naum quero que este tempo volte... Ele passou e foi muito bom demais... Acho que a gente tava se preparando pra ser feliz, pra ser grande, pra ser gente... Você especialmente... Hoje você tem quem te faça massagem nos pés, né? E eu tô em Genebra!
Digressões à parte...
A catedral naum cabe numa foto... tive que ir tirando muitas fotos... E só ia pensando no Maurinho... Culpa do Fuad... Vive chamando o Maurinho de padre... É só ver uma igreja como essa que penso nele... Essa igreja é diferente... parece que saum muitas, sei lá... duas, três... Ela é toda de pedra... Diferente das do Brasil... Essa aqui é do período medieval... Acho!!!! Ah! Falta de senso... Na próxima eu vou estudar história da UFSJ...Sei que a gente já fica achando as igrejas do Brasil históricas.. Essa aqui... Põe história nisso.... Tem um sítio arqueológico nela... Tô falando... Ela é velha pra caramba... Imagina o tanto de dissertação e tese sobre isso aqui... tenho um título... O processo de Foraclusão da constituição da cidade de Genebra Del Rei, seu teatro de revista, seu livro de receita e suas margens no século XIV em Kafka. Gente!!! Será que tem algum núcleo de pesquisa aqui...
Pena que já tava tudo fechado... amanhã eu volto. Foi uma visão monumental. Quero virar turista todo sábado...
Começou a chover... um frio... fui subindo bem de vagar... ainda era 8 horas... tinha que jantar pra encontrar com meu cavaleiro... no caminho que passo todo dia tem um monte de restaurante... mas tem um que gostei bem... Os donos saum indianos e na porta do restaurante tem a foto deles...brega... Tomei dois chopes e comei uma grande pizza... Muito bom...
Chuva... frio... Fui pra LAN... 15 pra 11 ele chega... Me faz chorar uns dez minutos... a gente demora a acertar o tom... Era a saudade... era a falta... Falamos de coisas da vida, de muito trabalho, de projetos aprovados... de amor à Tilah, ao Roulet... de família, de apartamento, de comida... de amor... e de saudade.
A hora passou... PUTZ... meia-noite tive que ir pra casa correndo... A rua tava cheia... os bares e restaurantes da rua com muito movimento... Tem um bar aqui muito legal, tem uma homaria... tem várias mesas de sinuca... e quase nenhuma mulher... Aposto que quase tudo é gay... Tenho errado ultimamente.... Fui enganada pela minha intuição... Mas.... vou acabar entrando lá um dia...
Cheguei cansada... chorosa... doida pra dormir e bem na ponta dos pés... o povo aqui deita cedo... Entrei que nem marido quando tá fazendo coisa errada.. fui ao banheiro... e dela já me preparei pra chegar tirar a roupa e dormir... Aqueles dois chops... Que sono... Tirei o computador da mochila pra dormir ouvindo alguma coisa... naum durmo no silêncio... tirei a roupa... que chulé essa porra dessa bota!!! Quando eu fui ligar a porra do abat-jour (chique, né???) deu um estouro e um clarão do caralho!!!! Que susto... apagou tudo... nem música, nem roupa, nem luz... PUTZ!!!! Deitei e fiquei quietinha... nada se movimentou... nem eu...
Amanhã pelo menos tem luz- pensei...
Maurinho como é mesmo que disseram... Faça-se a luz!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sem nenhum bife!

Décimo segundo dia 02 de outubro de 2008

Eu sempre acordo de mal humor... Tem dias que ele me acompanha... Principalmente nos dias de Allez les rouges! E foi assim... tava sem saco pra estudar francês aqui em casa... Peguei a minha foto com o Heldinho lá de Tiradentes e fiquei contando quantos “brequetes” do meu aparelho apareciam... Sempre que acabo de estudar escrevo uma mensagem pra ele no verso da foto! Sempre a mesma... Fechei o livro com a foto e quando dei por mim já tava na hora de preparar meu almoço. PUTZ... Num sei nem cozinhar um ovo... Nossa senhora das Márcias, rogai por nós!
A aula foi duríssima...
O Curso foi nada mais nada menos que com a Anne Grobet... Modularistas, Uni-vos e morrei-vos de inveja! Eu tenho que fazer a minha camisa escrita eu te cito... Aqui nessa Genebra eu tenho que sair com ela pra todo lado!!!
O curso dela tem como pano de fundo a argumentação a partir dos conectores e como primeiro plano a escrita do texto acadêmico... Como já conheço um pouco a teoria, isso facilitou as coisas... A estrutura argumentativa nas duas línguas são bem parecidas... Diria o Wander Emediato... Textos duros e muitos exercícios... Tivemos que fazer um exercício em dupla... Gente! O moço viu que eu naum falava lá tão bem, mas chamar uma frase inteira de conector na frente da Grobet... naum pode... Quase que eu falei... Aqui, vai ali, me compre um crepe de chocolate que eu vou te explicar o que é um conector...
Falei com ela, no final da aula, que apesar da dificuldade eu iria continuar no curso e abri meu caso pra ela ver minha camisa... EU TE CITO... Tudo sonho... Tudo naum... só a parte da camisa!!!
Ela é tão jovem e vai pra sala de aula com o capacete da bicicleta na mão. Bicicleta é um meio de transporte muito usado aqui. Em Barbacena não ia dar certo... com tanto morro... Gente! Ela deu tarefa de casa!!! Saí ainda com a boca azeda da manhã... Dormi mal, acordei muitas vezes... Fui pra biblioteca... Conversei sobre comida com a mamãe... com o povo lá de casa... deu vontade de comer bife...! Aqui tenho duas vontades persistentes ... Uma é ver TV... sem pensar em nada... só vê... A outra é fumar... Tenho relutado... porque sei que talvez o cigarro possa ser um bom companheiro. E depois naum vou saber mais ficar sem ele... Então não fumo! Então não como bife! Então não vejo TV! Então não transo... Fumar é bom (de traquinagem) junto, comer bife é bom junto, ver TV é bom junto morrendo de rir das piadas do Zorra. Transar também é bom junto, fumando, comendo bife e vendo tv e. Resolvi ir pra casa por outro caminho... Queria ver coisas novas... Gente!!!! Li que naum havia aqui proletariado... Bosta nenhuma! Vi o lado chique de Genebra... Fiquei em transe... As lojas, as luzes, as pessoas, as marcas, os carros, os preços, a beleza, a ostentação. E eu que tava achando chique a parte que eu conhecia... Quero voltar lá... Sentei num banco da praça e fiquei olhando aquela moça chique andando.... Tocou na minha cabeça “As vitrines”...
Sabe, eu tava meio de mal do Chico... desde a minha defesa... Tamo voltando aos poucos... Começamos a nos entreolhar com a Feijoada Completa... Que eu ouvi lá em BH no bar que fui com o Gu, a Debi e a Rejane. Também quero voltar lá... Dancei e cantei a noite toda!!!
Feijoada tem bife? O Oilliam me mandou de tarefa... voltar a ouvir todas as canções do meu corpus, mas enquanto o Chico ficar me fazendo raiva num vô ouvir... A Feijoada Completa bem podia tá no meu corpus... Ahhhhã! Todo O Sentimento! Por isso naum tenho dormido. De todas as maneiras tô me guardando o carnaval chegar... O carnaval é aqui? Mas sem bife? Tentei fotografar o arco-íris...
Naum quis saber em casa de livros, de nada, resolvi tirar minhas cutículas... (nunca escrevi a palavra CUTÍCULAS). Fiquei taum compenetrada... Nossa Senhora das Neusas aflitas e das Marias Josés dos Meninos bonitos naum ouviram minhas preces!

Nem assim tem bife!

O perfume, o conto e a estrela

Décimo primeiro dia 01 de outubro de 2008

Allez les rouges!

Aqui na casa eu tenho lugares que são meus... Tenho um lavabo, lá eu tenho um armário, lugar pra pendurar minhas toalhas, um pequeno espelho e um sabonete. Ele tem um perfume tão doce e macio... Tenho um pequeno espaço na geladeira, um pequeno espaço na dispensa... Tenho também um quarto com uma mesa para estudos, uma pequena estante para meus livros... e uma luminária pra me acompanhar nas noites... Engraçado a senhora aqui me chama de reina (São Maurício dos falantes de espanhol desesperados, é assim que escreve?)... Mal sabe ela que sou mesmo, pois tem um outro lugar onde naum tenho só um pedacinho das coisas e lugares... tem um lugar onde quase tudo é meu e lá naum me chamam de reina. Lá eles me chamam Jana, Naninha, Trator ou Janaína. Queria um lugar onde tudo fosse meu...
Será que esse lugar existe?
Quando entro no banheiro que é meu aqui, vem aquele perfume, quando tomo banho, fico com aquele perfume, que naum é o meu Dove de mais de 5 anos. É outro porque já sou outra. Que boa idéia, deixei os sabonetes do Helder e trouxe os da Beth! Queria que eles naum acabassem pra esse perfume ficar no ar... Já sei! Nem vou tomar banho!!! A idéia é boa, mas é MENTIRA!
Em todos os meus lugares daqui tem meu perfume novo. Fragrância genuinamente brasileira presente de uma amiga igualmente alva e doce. É o jeitim dela estar aqui também! Sai daí e vem pra onde você possa ser leve como esse perfume!!!
A tarde...
Todas as quartas e sextas são livres... quer dizer... livres pra estudar prosódia...
Ganhei outro presente também que naum foi sabonete... Quando fiquei sabendo que meu projeto ia ser financiado... Eu tava na sala de informática da UFMG. Contei ali mesmo pra umas três pessoas... saí da sala sufocada...queria gritar... meu telefone tocou... Ouvi as palavras mais doces e fortes que alguém podia me dizer sobre o que isso significava pra mim (pessoal e profissionalmente) esse projeto... Fragrância genuinamente brasileira presente de um amigo igualmente doce e forte. Naum bastava..., hoje ele me dá um conto de presente... Que serve em mim direitim e que combina com o meu novo perfume... Pode deixar que vou fazer contatos... contatos imediatos de pós graduação stricto sensu, companheiro! Ave São Aluízio de Azevedo protetor do único estudioso do teatro de revista!
Depois fiquei falando, falando naum, ouvindo de incêndios, de flores no balde, de dança, de peixe leite-de-coco e Márcia, de amor e de estrelas. Ri como nunca tinha rido nessa cidade...
Naum importa a grafia, estrelas saum estrelas. Tem gentes que tem sorte, pois podem ter suas estrelas... Mas as estrelas têm donos? Se eu fosse uma estrela... naum sei se ia querer ser estrela do céu ou do mar... onde é mesmo que termina o céu e começa o mar... ? Será que as estrelas do céu, já foram estrelas do mar? Será que as estrelas do céu e do mar se encontram? Certamente as estrelas devem saber,...elas sabem até quem é a PRI...
A tarde caiu e nem vi... a senhora elegantemente veio me acordar do sonho de estrelas dizendo que já estavam fechando...
É a segunda vez que saio à noite aqui... E naum vi estrelas... Todas devem estar assistindo o campeonato brasileiro é gritando pra suas amigas do cruzeiro do sul...
Allez les blues!

O corsário e a madame Gonçalez

Décimo dia 30 de setembro de 2008


Meu coração tropical
Tá coberto de neve
mas ferve em seu cofre gelado
A voz vibra e a mão escreve
.... Mar
Vou partir a geleira azul da solidão
me agarrar nas mãos do mar
me arrastar até o mar, procurar o mar...
Mesmo que eu mande garrafas, mensagem por todo mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá...


A professora de francês elementar se chama madame Gonçalez. Pelo nome o que se espera é uma mulher grande de gestos fortes, que fala alto, com a pele cor de jambo sem ser fresco... Aqui nesse fim de mundo não deve ter jambos frescos! Tem peixe! Tem chocolate! Tem jato d`água no meio do lago! Depois quero refletir mais sobre esse jato fálico e a cidade toda em volta dele... O fato é que entrou sala adentro uma senhora branquinha, com uma voz baixinha... Ela foi até cada um de nós pra fazer a chamada... Pensei... essa senhora num vai dá conta...Gente!!! A turma tem umas 12 pessoas. Mas... Presta a atenção: 2 croatas, 1 nigeriano, 1 espanhol, 3 americanos, 1 russa, 1 chinesa, 1 japonesa e um árabe.... falta ummmmmm... Eu. E uma brasileira... Antes da aula a gente se comunicava só por mímica. Gente! Falando baixo daquele jeito... dar conta desse povo taum diferente, taum cru na língua, cada um com seu sotaque, um pior que o outro... Gente!!! Naum tem jeito de ver quem sabe menos o francês... Cada um tenta falá o mais correto, mas naum sai nada... Adorei ver que tem outras pessoas como eu... Que se armou de uma coragem que nasceu naum se dabe de onde e veio pra essa cidade buscar sabe-se lá o quê... Eu quis muito vir pra cá... E cá estou... Quando fico na biblioteca estudando... e de todas as salas a que eu mais gosto é a sala de chinês/grego/alemão... A mesa que eu gosto de ficar tem uma janela bem grande e dela eu fico me perguntando se o que eu procuro aqui está só nos textos que estou estudando ou se tá lá fora perto dos Bastions, das árvores, do mato, das flores... Será que esse povo conhece Manoel de Barros. Tem uns que ficam deitados na grama... Talvez esses?!! Acho que naum.
E por falar em prosódia... Foi a prosódia da professora que fez com que ela nos regesse como se fosse um maestro. A cada erro era um ennn, ennn, ennn, tão acolhedor, mas tão firme. A gente morria de rir das nossas dificuldades e ela linda!!! Chique, sem subir o ton, sem precisar nem suar... Acho que ela nunca sua... A gente saiu da aula achando que a gente podia falar tudo... com todos... no mundo. Mas tem sempre um e-mail em minha caixa que acende a saudade. Depois dele comecei a sentir frio, o nariz escorrer... Gente! Saí sem blusa!!!! Acho que foi pra dizer pra essa cidade que meu coração tropical derrete qualquer gelo. Tô muito cansada, estudei muito, chorei um pouquinho e bem baixinho, menos que os outros dias... Meus olhos estão pesados... Vou dormir.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Língua e amor

Nono dia 29 de setembro de 2008



Hoje fiquei pensando em como é engraçado esta história de aprender uma língua, seja ela materna ou naum. Saí cedo de casa... Numa coragem... Decidi falar com todo mundo.... Quando cheguei na biblioteca perguntei pro moço se eu podia ficar lá, o que eu devia fazer, agradeci... e tudo. Depois fui à secretaria perguntar se eu poderia me matricular no curso de francês... Foi muito engraçado... A moça disse que sim e eu que teria que pagar 250 francos e que o mais indicado pra mim era o francês elementar... Boba ela... mal sabia que o meu orientador aqui... também consegui...me inscrever num curso de leitura e escrita avançado... Vou fazer os dois...
Sabe, tô mais solta...
A aula do Ahclin foi ótima... Teve uma hora que ele tava falando dos nomes próprios no francês... E eu dei aquela típica apertada nos olhos pra... PENsar... E ele disse: - Calma, Janaína isso é só para a língua francesa....
Aqui nós nos sentamos em círculo e a sala tem tudo... tudo tá na internet, todos os textos da aula. Vc pode seguir a aula do seu leptop... As máquinas de Xerox ficam nos corredores, vc escolhe o seu texto e voilá!!! Aula é coisa séria por aqui... Entendi uns 70% da aula, e por ser a primeira, me dei por satisfeita. Estive com o Auchin e consegui falar umas 5 frases completas... Saí de lá pensando...
Todo mundo aprende com a mãe a sua língua materna... Seu tom sua musicalidade... Aqui tem um ennnnn em tudo... Um ennnn tipo Ida Lúcia, que é um movimento que certamente se aprende no seio materno.
A nossa língua sempre gente aprende... Alguns com mais facilidade. Como tem gente que aprende fácil! Outros demoram a entender a engrenagem... Falar é tipo dirigir enquanto a gente pensa pra falá, naum fala... Lembrei do livro que o Jefferson leu e me disse que a gente só sabe outra língua quando a gente pensa e sonha nessa língua... Hoje me peguei pensando em francês... Muitas pessoas vaum pra escola e lá no lugar de melhorá... fica mais atrapalhado... Amor se ensina? As pedagogas da UEMG diriam em coro... Sim, nom petite, quem ensina com amor está ensinando a amar... Às favas... Ainda bem que as pedagogas têm uma chance... Veja a Betita, minha recém-lingüista pedagoga!!! Mas o segundo amor, a segunda língua... Esta é assim...
Quanto mais novo você é, mais fácil de aprender... Você tá aberto... naum tem falsas seguranças lingüísticas...Aprende quantas e todas se for preciso. Mas se você deixar o tempo passar... Fica tudo mais difícil... Você chega a quase pensar que naum será capaz de aprender outra língua... Como sempre têm aqueles que tipo o Kirk que esbanjam...
Sempre aprendi as línguas mais ou menos... Nunca estava nelas por inteiro... Embromava uma e outra... Só na margem. Aqui em Genebra há muita margem!!!! Dá pra fazer um título... Os processos crimes dos Bastions do século XIX e as margens das foraclusões genebrinas del rei.
Fui ao correio... E como naum sabia onde era... Parei um moço na rua e perguntei... Ele me perguntou de onde eu era e ele disse que era português... No final, ele disse que eu já estava falando (até) bem por estar só uma semana aqui... Ele disse que têm pessoas que moram aqui há anos e naum falam nada... No amor é assim.
Às vezes a língua te deseja mais que você a ela... E você aprende... Outras vezes a língua te nega possibilidades... E você aprende... Tem língua que você espera a hora certa de aprender... Outras te assaltam... E você só sabe que quer dizer a ela que você precisa vivê-la pra falar... - Eu naum sei o que é isso, mas quero viver...
Eu preciso do francês porque ele me faz sentir pessoa, gente. Porque com ele posso voar em cavalos pra chegar em Genbra e falar da chuva e morrer de rir.
Falo o espanhol porque ele é quente e tem ginga, esporadicamente falo inglês... Porque pra mim, um é bom, dois é ótimo e três é ser cidadã do mundo!
Eu sou a minha língua!

Beijar retrato naum é coisa de novela...

Oitavo dia 28 de setembro de 2008

Que noite boa!!! Que cama baixinha boa!!!
À noite pude trocar de roupa calmamente sem aquele leva-e-traz de mala do corredor como era no Hostel... A gente, eu especialmente que perco as coisas até sem ter perdido, (Só naum sou pior que o Horácio!!!), tinha que tomar muito cuidado lá, pois era um trânsito de pessoas muito grande. Lá é o cúmulo da luxúria você acorda com cinco e naum sabe se vai dormir com as mesmas cinco de novo... O fato é que pude me ver... Ver meu corpo... Emagreci pelo menos uns 2 quilinhos... Além de estar com o corpo todo roxo, pernas, mãos e braços...
Hoje o dia amanheceu lindo!!! Que domingo!!! Deu vontade de ter filhos pra poder levar lá no rio... e ficar andando à toa...
Fui a missa!!! Gente, a missa daqui é taum chata com as do Brasil... Nunca acaba... O lado bom daqui... é que a música é tocada naqueles órgãos grandes... e a cantora canta mesmo... naum esgüela com as mulheres que a cigana engana no Brasil... O povo acha que ter fé basta... Na hora de dar o dinheirinho, as doninhas vêm com o cesto e ficam olhando pra gente... Putz!!! Eu vim sem dinheiro... Aposto que ela gravou minha cara... e anotou... mais uma latina bolsista fapemig pão-dura... Se ela soubesse o que a gente ganha... Ela dava era o cesto pra mim...
Resolvi ir dar uma volta no rio... ver o sol de lá. Passei por uma rua que se chama Mont Blanc... É assim... vou explicar... Quando você olha reto, ocê vê um monte lindo lá no horizonte... Que ainda naum tá branco, mas vai ficar até dezembro. LINDO!!! Fui andando é vi uma fuzarca na rua... tava tendo uma maratona... quanta gente... O povo educado daqui fica lendo o nome dos competidores nas blusas deles e fica gritando pra eles... Allez!!! Passei pela ponte que leva ao relógio de flores... Acho essa a coisa mais brega daqui... brega de cum força... Quando eu tava na ponte...Meu coração disparou... a ponte balança e eu comecei a ouvir uma batida que meu coração foi acompanhando e reconhecendo... Gente meu sangue negro-índio naum consegue ouvir um tambor e naum segui-lo... Fui seguindo pelo parque o batuque... Precisei deixar o Brasil pra entender o valor da metáfora usada no carnaval... A bateria é o coração de escola... Tinha 6 brasileiros causando a maior alegria... tocando samba, axé... O povo parava, tentava dançar... Ê povo sem jeito... Os orientais entaum... Ri até... Balancei meu corpo... Me alegrei... Voltei pra casa pra preparar meu almoço. No caminho fiquei tentando descobrir qual a diferença entre igreja anglicana e a nossa... De repente. Um moço lindo de 4 palmos de ombro, moreno... parou na minha frente... E disse: - Salut. Ça va biemmmm? Com um acento no iemmm... E um sorriso de meia boca... Homem safado e entraum tem em todo lugar... Custei a entender... Fiquei lá olhando pra ele e pensando... (se vc naum tivesse matado as aulas de história pra ler Meu pé de laranja-lima, vc saberia o que é uma igreja anglicana). Falei pra ele bem calmamente... “Aqui, você me conhece???” E saí morrendo de rir...
Falei com o povo lá de casa... Com o Heldinho... Naum to mais chorosa... Só chorei lendo o e-mail de título a Rua XV. Vim pra casa... pra estudar... ler... e fiquei vendo algumas fotos... Queria beijar as fotos... Sempre achei isso taum estranho(brega) nas novelas... Ah! Eu sei a origem da palavra brega... Hoje eu sei porque as pessoas beijam as fotos... E naum consegui entender até agora é como uma palavra com um significante taum bonito, pode ter um sentido taum seco como este.
Saudade...
É a vida, Saussure!