sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O corsário e a madame Gonçalez

Décimo dia 30 de setembro de 2008


Meu coração tropical
Tá coberto de neve
mas ferve em seu cofre gelado
A voz vibra e a mão escreve
.... Mar
Vou partir a geleira azul da solidão
me agarrar nas mãos do mar
me arrastar até o mar, procurar o mar...
Mesmo que eu mande garrafas, mensagem por todo mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá...


A professora de francês elementar se chama madame Gonçalez. Pelo nome o que se espera é uma mulher grande de gestos fortes, que fala alto, com a pele cor de jambo sem ser fresco... Aqui nesse fim de mundo não deve ter jambos frescos! Tem peixe! Tem chocolate! Tem jato d`água no meio do lago! Depois quero refletir mais sobre esse jato fálico e a cidade toda em volta dele... O fato é que entrou sala adentro uma senhora branquinha, com uma voz baixinha... Ela foi até cada um de nós pra fazer a chamada... Pensei... essa senhora num vai dá conta...Gente!!! A turma tem umas 12 pessoas. Mas... Presta a atenção: 2 croatas, 1 nigeriano, 1 espanhol, 3 americanos, 1 russa, 1 chinesa, 1 japonesa e um árabe.... falta ummmmmm... Eu. E uma brasileira... Antes da aula a gente se comunicava só por mímica. Gente! Falando baixo daquele jeito... dar conta desse povo taum diferente, taum cru na língua, cada um com seu sotaque, um pior que o outro... Gente!!! Naum tem jeito de ver quem sabe menos o francês... Cada um tenta falá o mais correto, mas naum sai nada... Adorei ver que tem outras pessoas como eu... Que se armou de uma coragem que nasceu naum se dabe de onde e veio pra essa cidade buscar sabe-se lá o quê... Eu quis muito vir pra cá... E cá estou... Quando fico na biblioteca estudando... e de todas as salas a que eu mais gosto é a sala de chinês/grego/alemão... A mesa que eu gosto de ficar tem uma janela bem grande e dela eu fico me perguntando se o que eu procuro aqui está só nos textos que estou estudando ou se tá lá fora perto dos Bastions, das árvores, do mato, das flores... Será que esse povo conhece Manoel de Barros. Tem uns que ficam deitados na grama... Talvez esses?!! Acho que naum.
E por falar em prosódia... Foi a prosódia da professora que fez com que ela nos regesse como se fosse um maestro. A cada erro era um ennn, ennn, ennn, tão acolhedor, mas tão firme. A gente morria de rir das nossas dificuldades e ela linda!!! Chique, sem subir o ton, sem precisar nem suar... Acho que ela nunca sua... A gente saiu da aula achando que a gente podia falar tudo... com todos... no mundo. Mas tem sempre um e-mail em minha caixa que acende a saudade. Depois dele comecei a sentir frio, o nariz escorrer... Gente! Saí sem blusa!!!! Acho que foi pra dizer pra essa cidade que meu coração tropical derrete qualquer gelo. Tô muito cansada, estudei muito, chorei um pouquinho e bem baixinho, menos que os outros dias... Meus olhos estão pesados... Vou dormir.

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