sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Das coisas que eu naum sei

Vigésimo quarto dia 14 de outubro de 2008.


Acho que devia ter graduação, pós-graduação (lato e strictu sensu) pra formar professores de auto-escola. Ou quem sabe podia ser assim... A pessoa faz graduação em educação e depois se especializa em como dar aulas pra futuros condutores ou condutores debutantes...
Tudo isso porque a Madame Gonçalez dizendo que nossa turma estava muito bem pra quem está no nível “debutante”... Aí fechei os olhos e voltei no dia em que eu, Cláudio e Maurinho conversávamos sobre as aulas da auto-escola. Me lembro de que eu falava que o quê me mata é essa sensação de debutar em sala de aulas... Naquelas aulas uó... a minha incompetência ficava ressaltada... Tinha a sensação de que eu naum queria começar a aprender mais nada...quando saia de lá. Porque aquela porta chamada instrutor, nos amedrontava, porque ele tinha um saber que a gente naum tinha... Ele ressaltava nossa incapacidade de ser gente... A gente tinha que ficar lá 3horas e meia por dia com aquela porta de camisa furada falando aquelas coisas... de motor , de primeiros socorros que a gente nunca vai usar... além de mostrar a cada três frases um profundo desconhecimento pelas regras de concordâncias verbal, nominal e social... (machista) uó... aquelas inaceitáveis pra um instrutor, seje ele do que for...
Aquelas aulas me fizeram sentir segurança só nas coisas que eu sei ou acho que sei... Parei as aulas de direção, porque prefiro as aulas de semiótica greimasiana, das estruturas e das suprestruturas baktinianas, dos pressupostos argumentativos de Perelmam,, dos percursos semânticos dos textos... E deixei o percurso físico da minha casa à faculdade pra fazer no banco do carona mesmo.
As coisas que eu naum sei saum muito difíceis e naum quero elas naum... Vejam só o que aquela porta que tem péssimo gosto pra escolher profissão e camisa fez comigo...
Aí meu pensamento foi voltando à aula sobre “repas” e fui percebendo que eu estava me sentindo até muito feliz diante daquele tanto de coisa que eu naum sei... naum sei pedir rum no bar, naum sei andar de ônibus em Genebra, naum sei falar com a Grobet que naum sei onde vendem os livros dela e que eu cito ela na minha dissertação, naum sei usar o praat, naum sei cozinhá... Putz!!!
A culpa pra mim dessa segurança recuperada diante do novo é da porta aberta que a gentileza e a elegância da madame Gonçalez coloca diante de nossos olhos... Como ela deixa a gente a vontade pra errar, pra tentar de novo,... Como ela me deixa a vontade diante do que eu naum sei, meu deus!, Ela faz a gente se sentir capaz de aprender... E pra aprender um mundo aqui em Genebra eu fico pontualmente 1h e 45 por semana. Saí da aula pensando que eu tava sendo muito severa com a pobre porta-instrutor... mas passei pela ponte pra ouvir meu trompetista preferido... Ele naum tava lá... Tava lá um outro... tocando um violão desafinado, com uma voz enlouquecida também querendo orquídea... Tá louco Garoto!!!
Quer saber? Todos os dois, de certa forma, estão protegidos pelas coisas que eles naum sabem... E eu sendo enganada pela cigana, na confiança de que sei de alguma coisa pra criticá-los. O que me redime é tudo aquilo que eu naum sei... Aprender ou naum saber simplesmente como a lidar com as coisas que naum sei... que naum controlo pode ser um bom mote pra tirar minha carteira de motorista assim que chegar no Brasil, ou naum... A porta da auto-escola naum é maior nem taum pesada que a porta da Saint-Pierre. E eu entrei lá.
Hoje o apartamento de cima pegou fogo... Ai que medo...
Acho que eu tinha que levar minha relação com esse instrutor pra uma conversinha com o Júlio...

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